quarta-feira, 16 de abril de 2008

Priscilla de Aracaju




Recebi este e-mail e estou postando aqui para partilhar uma dúvida comum de todos que trabalham com pessoas com paralisia cerebral.


Olá Regina, como vai?
Pelo que vi em seu Blog, a sua palestra foi um sucesso, deu tudo certo Graças a Deus, não foi?
Parabéns! Adoraria ter estado lá, tenho certeza que me ajudaria muito.
Regina, fui ao seu blog ver o que encontrava por lá que me orientasse sobre o caso de uma aluna minha a Raissa. Gostei muito, tem muita coisa e uma vai levando a outra. Essa semana fui conhecer a Fonoadióloga dela. Uma pessoa boa e simpática. Mas sinceramente, Regina, ela me incentivou a buscar meios que não exigissem muito esforço de Raissa, para ela não se frustrar. Elas se comunicam pela prancha e Raissa não quer mais saber da prancha, ela quer ir para o computador. A Fono acha que deveria alfabetizá-la por varredura ocular, que é o que ela já faz, só que com gravuras, ela não conhece todas as letras. Ela acha que vai demorarmuito p Raissa ter coordenação motora suficiente para acertar uma letra (ela tem paralisia tipo coreoatetósica). Mas não é assim mesmo que acontece, lento mas progressivo?


Fora q Raissa quer, ela sabe o que a espera e que também pode não dar certo, mas que temos que tentar. Minha prima, a fisioterapeuta dela, que faz a atividade de dança , disse que vai me ajudar trabalhando c ela a sua motricidade fina. De outra forma, Raissa vai continuar frustrada e dependente, sujeitando a se comunicar somente pelo que vê. Eu penso em colocá-la no teclado colméia, com aquele aparelho chamado Estabilizador de Punho e Abdutor de Polegar Com Ponteira para Digitação, tem também um peso no pulso e ainda com uma tala que restringe os movimentos, que pega de um braço ao o outro. A fono acha que devo alfabetizá-la no mural e ao final fazer atividades de Powerpoint de uns dez minutos p incentivá-la, mas sem o intuito de incluí-la no mundo digital.


Regina, ela é inteligente, muito esforçada e adora o computador como toda adolescente. Está suprindo, em parte, a sua inclusão na sociedade com a dança e as apresentações que ela adora. Mas a própria mãe já disse que ela sempre entra em depressão no início do ano qndo as irmãs vão p escola e ela não. Ela quer mais, é capaz e tem esse direito. Vi em um trabalho seu, um dispositivo chamado Acoplador de Mouse. Achei muito interessante, principalmente para o caso dela, q tenho consciência q será realmente difícil. Mas nesse caso, o teclado é virtual, não é? Seria bom mesmo era se eu visse um pc utilizando essas tecnologias. Queria muito ter contato direto para poder fazer alguma coisa por Sergipe. Estou ainda me formando, mas quero trabalhar nessa área, continuar estudando. Andava desiludida com a pedagogia, pois n me vejo dando aulas em uma escola "normal" para crianças tidas como "normais". Agora parece que tudo se transformou, estou muito motivada e acredito q seja esse o meu caminho. Estou recorrendo a vc pq as vezes me vejo só, acreditandoque é possível SIM, alfabetizá-la no computador. Preciso só de uma orientação, acontece que aqui em Aju n tem ninguém q já tenha feito algo parecido e qndo busco na net, n vejo coisas específicas. Aracaju é uma cidade pequena, resistente e ainda com muitos preconceitos e pouca informação, como em outros lugares. E vc Regina, pelo que tenho visto, domina o assunto e pode de alguma forma me ajudar. Se for loucura o que relatei aqui, fique a vontade p dar o seu parecer, mas acho q ainda assim eu não desistirei.


Um abraço agradecido,




Obs. Desculpe-me pela extensão do e-mail, pelas abreviações nas palavras e a falta de formalidade.

Oi Priscilla
Em primeiro lugar muito obrigada pelas palavras de carinho. Quem me dera dominar o assunto! Eu trabalho nesta área há 12 anos, mas estou sempre pesquisando e buscando novas formas de interação com os alunos, porque cada PC é diferente de outra. Nunca peguei 2 casos iguais. Não tenho nenhuma fórmula pronta e para que um determinado equipamento, software ou hardware dê certo, podes ter certeza que muita coisa deu errado antes. A inclusão é um processo que antes de mais nada exige uma mudança de mentalidade, auto conhecimento e respeito de todas as pessoas envolvidas no processo. Não existe um diagnóstico ou laudo definitivo. Às vezes as mães chegam aqui dizendo que os médicos disseram que a criança seria como um "vegetal" e a criança está bem, alfabetizada e com qualidade de vida. Tentarei responder algumas questões mas nossa conversa vai longe e espero que mesmo a distância possamos buscar soluções para a inclusão da Raissa. Em relação a mudança de mentalidade da escola e dos professores é um outro problema muito sério que enfrentamos também aqui no RS.

As crianças PCs se comunicam com expressões faciais, sons, movimentos corporais e visuais. O processo de comunicação - alfabetização - inclusão é lento e progressivo. Mas é necessário que todos os profissionais que trabalhem com ela acreditem na sua potencialidade. Se ela consegue decorar as coreografias e os movimentos mesmo que sejam simples, acredito que seja possível se alfabetizar utilizando o computador. A PC do tipo coreoatetose caracteriza-se por distonia (variações da tonicidade muscular) e movimentos involuntários afetando o Sistema ExtraPiramidal.
Comece utilizando a colméia, te enviarei alguns dos aplicativos que utilizamos. Não esqueça que para confeccionar a colméia vc precisa ter o teclado que ela utilizará. Na postagem do dia 14 de janeiro eu mostro como confeccionar a colméia. Se ela não abre a mão verifique se ela consegue segurar uma caneta ou lápis. Não saia comprando equipamentos , ainda. Primeiro tente a Colméia e veja se com um dedo ela consegue digitar. Ok?
Um abraço

4 comentários:

Paula Puhl disse...

Oí Regina!
Muito bom o teu blog....gostei mesmo. Olha só uma aluna me perguntou sobre algum material sobre televisão e deficientes visuais, sabes de algo? Encontrei somente um site português chamado lerparaver.com (é um site português, funciona como um blog, tem comentários e artigo sobre inclusão eletrônica). Um ..ah! entra no meu blog academiaglitter.blogspot.com. Bj

Regina Heidrich disse...

Oi Paula

Tudo bem contigo? Pelo que entendi, tua aluna deseja saber como devem ser os programas para deficientes visuais. Eu tenho algum material e vou pesquisar e colocar aqui no Blog. Ok?
Pretendo visitar teu Blog.
Bj

Anônimo disse...

Regina, obrigada pelo seu apoio, está sendo muito importante. Em breve postarei aqui boas novidades a respeito do desempenho de Raissa. Estou seguindo os seus conselhos.

Um abraço, Priscilla.

Anônimo disse...

Bom, trago notícias sobre Raissa. Bom, ela vem respondendo muito bem
às atividades que tenho desenvolvido com ela no teclado, o único
problema é a sua motricidade fina, mas estamos trabalhando para
melhorar. Ela é muito esforçada e perfeccionista, por sinal ela mesma
te add no orkut, teclando com o próprio dedinho. Já identifica as
teclas de apagar e de dar espaço. Estou trabalhando o alfabeto c ela e
para isso tenho construído atividades no PowerPoint. Sobre esse
assunto, Regina,gostaria de saber o que vc acha do software comunique,
tentei baixar, mas n consigo, ou algum outro que me ajude em sua
alfabetização. E teclado que é virtual? Acho interessante a
possibilidade de poder usá-lo com aquela luva e o mouse acoplado. Você
sabe de alguém que já tenha utilizado?

Sem querer abusar Regina, se tiver alguma referência em especial que
possa me indicar, também ficarei imensamente agradecida.

Obrigada desde já!

Abraços, Priscilla